Para quem não conhece, Heliópolis é um bairro, na Zona Sul da cidade de São Paulo, com mais de 100 mil habitantes e é a maior comunidade (eufemismo, politicamente correto, para “favela”) paulistana. Heliópolis, nome de uma cidade baiana, de onde vieram os primeiros migrantes que lá se estabeleceram, começou a ser formada no começo da década de 1970. Intervenções da Prefeitura nos últimos 20 anos, conseguiu levar infraestrutura para aquela área, mas o estrago feito por 30 anos de favelização tornou aquela área pouco diferente dos morros cariocas.

Após um grande incêndio ocorrido lá, no fim dos anos 1990, um maestro, chamado Silvio Baccarelli, resolveu oferecer aos jovens da comunidade um alento de vida, na forma de música. Desde então, milhares de crianças e jovens que teriam poucas alternativas na vida, além de vender biscoitos e água nos congestionamentos de São Paulo, conheceram o mundo da música clássica e tiveram suas vidas transformadas.

Hoje, o Instituto Baccarelli, que começou em 1996, com 36 integrantes, atende 1.200 crianças. A Sinfônica Juvenil Heliópolis – que tem Zubin Mehta como seu patrono – realiza temporadas regulares pelo Brasil e pelo mundo afora. Muitos músicos, formados no Instituto, seguiram para o exterior para concluir seus estudos e integrar outras orquestras.

Num país que insiste em criar “Salvadores da Pátria”, o maestro não se propôs a ser reconhecido como tal, mas para milhares de jovens, com baixa perspectiva de inclusão social, ele salvou suas vidas. Baccarelli foi enterrado no último dia 21, indubitavelmente, sem o devido reconhecimento popular. Brecht disse que “Infeliz é o país que precisa de heróis!”. O que dizer do Brasil que nem mesmo valoriza seus heróis?

Orestes Camargo Neves

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